segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CERATO

Kia Cerato
Setembro 2009

Kia Cerato

Ele custa menos que o City e tem tudo para agradar o dono de um Civic

Donos de Kia Cerato são pessoas pacientes, que não se importam de responder perguntas que aparecem todo dia. Explicar o que era aquela vareta cromada brotando da carroceria (uma antena de rádio telescópica) ou por que ele escolheu um carro que, em 2008 inteiro, vendeu tanto quanto o Civic em uma semana. O dono do novo Cerato também vai ter que explicar muito. Mas as perguntas mudaram.

“Custa quanto, uns 70 paus?”, pergunta o meu vizinho que entende de carro. Não, bem menos. Começa em 49 900 reais (preços cotados em agosto de 2009), mas, se fosse você, iria direto no modelo de 52 900. Com freios ABS, ar-condicionado digital, faróis de neblina e rodas de liga leve aro 16 (no estepe, inclusive), ele compensa com sobra a diferença de preço. Esse Cerato é tão equipado quanto o Honda City EX, de 61 650 reais. Mas a comparação é um tanto imprópria, já que os dois pertencem a segmentos diferentes.

O Cerato tem o porte do Corolla. Se parece menor, é graças ao trabalho de Peter Schreyer. Ele trabalhava na Audi e passou a chefiar o departamento de design da Kia, se bem que essa é uma pergunta que me fazem cada vez menos. O Soul fez as pessoas repararem no trabalho dele.

A carroceria do Cerato é atlética, com os paralamas dianteiros se esticando para acompanhar a larga bitola dianteira. A linha de capota cai suavemente, escondendo o volume do porta-malas, num formato de cupê. Se você achasse o antigo Cerato simpático, ninguém discutiria: seria dado como um caso perdido... Se você achar esse carro novo mais bonito que Civic, City, Vectra e Linea, ninguém vai discutir. É bem capaz de concordar

O Cerato é tão bonito que às vezes decepciona. Você corre a mão pelo painel e encontra plástico duro, em vez de superfícies emborrachadas. Por que eu fiquei frustrado? Civic e Corolla também são assim. É que o desenho refinado eleva as expectativas. O rádio do Cerato também é caprichoso, e nem estou falando dos comandos no volante. Como num bom carro alemão, você aperta os botões de memória sabendo qual estação está gravada – elas vêm escritas na beira da tela vermelha. Com tweeters nas portas da frente, o som é bem razoável. Os para-sóis têm prolongamentos móveis, para aumentar a proteção contra o sol, e o console no teto tem um porta-óculos.

Mas outros detalhes fazem lembrar que estamos num carro de custo-benefício. Continue correndo os olhos pelo teto e você verá grandes tampinhas pregando o forro, na frente e atrás, como num Logan. O volante não tem ajuste de distância e o de altura é estranho, varia da posição baixa para a muito baixa. Encontrei uma posição confortável de dirigir, mas não foi de primeira. O banco do motorista tem ajuste de altura, mas é forrado por tecido sintético não muito diferente daquele que encontramos no Mille. Meu Cerato passaria num tapeceiro no caminho da concessionária para casa, talvez antes de encher o tanque. Pediria para cobrir também os painéis de porta. Eles têm bom aspecto, mas são de plástico puro. O banco de trás tem apoio de braço, mas falta apoio de cabeça e cinto de segurança para o quinto passageiro. O City tem isso e ainda pode reclinar o encosto.

Bancos de couro preto fariam jus à beleza do Cerato, e também a seu jeito de rodar. A suspensão é convencional (McPherson na frente e barra de torção atrás), mas o ajuste lembra o do antigo Corolla. Na cidade, ele filtra bem os buracos e paralelepípedos, sem sacolejos ou batidas ocas. Em velocidade, o Cerato é comunicativo, mas não é nervoso. Pelo menos, foi o que deu para conhecer nesse modelo completo, de 57 900 reais.

Aposto que o Cerato é melhor na versão manual. O câmbio automático tem função sequencial na alavanca e funcionamento suave, mas não há milagres: quatro marchas é pouco. Na cidade vai bem, pois as três primeiras são próximas. Mas na estrada, mesmo em subidas leves como a da Rodovia dos Imigrantes, o câmbio fica alternando entre deixar em terceira (com o motor gritando) ou passar à quarta (com o motor vazio). Não o culpo por isso, também fiquei em dúvida.

Mesmo encoberto por um câmbio automático limitado, o motor consegue aparecer. É o ótimo 1.6 16V usado no Soul, com 124 cv. Ele tem hábitos alimentares caros (a versão flex é esperada para o ano que vem), mas pelo menos come pouco: fez 10,5 km/l na cidade e 13,9 na estrada. E imagine que, na pista de testes, esse Cerato andou junto com o Civic automático (que é 1.8 flex e tem cinco marchas). Na prática, o Honda é mais agradável, roda mais relaxado, mas perceba que valentia não falta ao motor da Kia.

O Cerato nunca foi a referência entre os sedãs médios e, claro, não passaria a ser agora. A novidade é que, pela primeira vez, o maior problema parece ser a própria humildade da Kia. É como a mocinha comprida que virou mulherão e passou a receber convites para sair, mas não aceita nenhum porque acha que estão caçoando dela. Não ria, dona Kia: pode maquiar o Cerato, que está cheio de rapazes querendo compromisso sério

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